13 de novembro de 2014

As cinco coisas

Uma grande dificuldade em termos de escrita é que me detenho nos pequenos detalhes perdendo então tudo o que ainda não tinha nem achado, complicando o que já nem era tão claro. É difícil retomar a narrativa. Mas posso me esforçar a isso quando não sou tomada por uma preguiça que me convence a não escrever, com a desculpa de que arte só se faz de boa e livre vontade. Essa é a minha segunda grande dificuldade.
A terceira coisa que me incomoda é a ansiedade de quem é dona momentânea de inspiração passageira e entorta-se de medo de ela passar rápido demais ou trazer consigo o esquecimento repentino, seu amigo mais cruel.
Houve um tempo em que não havia em mim nenhuma dessas pobres vírgulas ou desses famintos pontos de interrogação... o que já não importa mais.
A escrita é algo que acontece de dentro para fora ou para nem sei para onde. Ela não se preocupa em ter aceitação, ela existe, ela é. Por isso a quarta coisa que me incomoda já morreu. 
E o deleite!!? Depois que nasce a coisa, não qualquer coisa, a coisa que me faz artista, a coisa boa de se ler, a coisa que me representa, a escrita que diz o que eu queria dizer, a coisa viva de mim, a coisa que se desprende... aí vem o deleite. É um prazer que não se escreve, esse não.  Ver a coisa viva e dizendo, como uma criança. Um filho que só pertence a ele mesmo, tão querido e amado por todas as lágrimas que já saíram daqui e ainda sairão. Essa é a quinta coisa que me preocupa.



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