25 de julho de 2013

POR UM MOVIMENTO ANTI-MACHISMO

Não é novidade que, em nossa sociedade, se a mulher deixa os filhos por conta do pai ‘é negligente’; quando se veste fora do padrão esperado ou não limita seus desejos ‘é vagabunda’; se não desenvolve habilidades domésticas ‘é incompetente’; se erra, é porque ‘é mulher’. O mito é tão potente, que o rito se perpetua no cotidiano, e muitas mulheres, por temor a esses títulos (dentre múltiplos outros), reproduzem por séculos o papel proclamado a elas.

Mulheres machistas


_ Mulher que não faz unha do pé é relaxada!_ Minha mãe, me jogando indireta._ E Homem?Se ela respondesse: A maioria é relaxada! Ufa, eu ficaria mais tranquila! Mas ela respondeu: _ Ah! Homem é homem, né?


Que cultura arraigada! Imagino que uma das grandes dificuldades de se extinguir o machismo é o fato de as próprias mulheres ainda não o identificarem nelas mesmas. Enquanto as mulheres praticarem a cultura machista e não se derem conta do quanto ela nos prejudica, continuará difícil levantarmos nossa bandeira frente aos homens, que se importam menos com as unhas dos pés, porém desacreditam nas mulheres e nas suas capacidades, ironizam, excluem, desrespeitam, estupram.

Minha mãe mais uma vez: _ Se te agarrarem na rua, relaxa! _ Recomendação dela que é conhecedora do meu temperamento explosivo, numa das vezes em que saí à noite. Fiquei intrigada pensando no que a palavra relaxa significava naquele contexto: Não reaja; se acalme... ou será que: se submeta, você é mulher! Preferi não debater, pois sinto uma espécie de nó na garganta quando o machismo parte de uma mulher. Um nó de pena e revolta. Lamentavelmente a desinformação leva as mulheres a aceitarem a submissão e a maldita cobrança para serem perfeitas bonecas, exímias donas de casa, comportadas, discretas, silenciosas quando entre homens, sem opinião... E pior: grande parte delas aprecia esses hábitos e dissemina esse comportamento diferenciado para as suas filhas.  Mas como não ser assim? Poxa vida, quanta luta desde Simone Beauvoir, para ainda encontrarmos tamanha mancha! Tempo! Só o tempo pode desfazer o mito, um tempo bem aproveitado com muita reflexão e informação a respeito do que é ser mulher.
Dessa vez foi a minha tia: Meu irmão acordou, foi jogar vídeo game, e ela mais que depressa veio arrumar sua cama.
_ Ele acordou aleijado?
_ Ih! O que é que tem? Não estou fazendo nada mesmo!
_ Agora está! Está gastando energia instituindo mais um machista no mundo, como se já não bastasse!
_ Poxa, mas ele recolhe o monte de cocô que o cachorro faz no quintal, recolhe o lixo... É como uma troca.

A troca



_Não é não! Ele não arruma a cama simplesmente porque acha que é obrigação da primeira mulher que passar por perto. Pelo mesmo motivo, não frita um ovo, não lava o prato em que comeu, não estende a toalha com a qual se enxugou. Vocês estão criando um machista! _ Respondi. Entendo que algumas atividades são 'melhor encaixadas' nos homens, eu mesma não aguento trocar o galão de água, porém incomoda o tom superior com que os homens assumem sua posição na troca, como sentam à mesa esperando a comida quase que na boca (Na casa dos meus pais é assim e acredito que nas casas de grande parte da população também). E a maneira submissa com que a mulher se põe na troca além de incomodar, assusta (e faz perceber a força tamanha do machismo na nossa sociedade).


Traçando um paralelo com as vítimas de racismo



Quando penso na luta contra o racismo, consigo enxergar quase todos os negros, militantes ou não, com a mesma direção de pensamento, atentos a qualquer segregacionismo, ou seja, um negro de qualquer nível social ou cultural, mesmo que afastado da causa anti-racista, quando sofre uma situação de preconceito, reconhece isso (me corrijam se estiver errada). Infelizmente essa totalidade não acontece entre as mulheres. São poucas as que identificam uma atitude machista, a maioria considera normal ou justo ser reduzida. A consciência da própria vítima não foi construída, por isso a causa feminista, a meu ver, conta com um número insuficiente de pessoas. Os negros podem combater (inclusive processar judicialmente) os racistas tanto por violência física como por qualquer atitude preconceituosa e esse direito é uma conquista formidável. No caso das mulheres, só temos esse aval para violência física (o que não é pouco, mas ainda é pouco!). Por quê? Porque se condenarmos atitudes ou comentários machistas, estaremos julgando a nós mesmas, já que nossa classe é composta por um grande número de mulheres machistas. Um negro pode dizer seu racista filho da puta! E nós mulheres? Estaríamos xingando nossas titias, nossas vovozinhas. Lamentável, mas a grande maioria das mulheres por esse mundão a fora jamais pensou a respeito do machismo, apesar de viver em função dele. Acredito que alguns negros até ajam de forma racista às vezes, porém não é comum.
Bem, se não podemos ir de contra as pessoas para não virmos de contra a nós mesmas, a nossa luta deve ser estritamente contra a cultura, a maldita cultura!


A guerra é contra a cultura e não contra os praticantes dela


O que mais lamento na pequena batalha do meu cotidiano familiar contra o machismo é ouvir: _ Ora! Sua mãe é mulher e pensa exatamente como eu! _ Ou seja, nos falta o apoio da própria classe. Com que armas lutamos versus uma cultura? Quais estratégias usar contra uma força secular? Como arrancar das pessoas hábitos tão cômodos? Penso que fiscalizando nossas atitudes, e incentivando os nossos a fazerem o mesmo.Cabe a nós, mulheres e homens conscientes, combatermos, espalhando muita informação por esse mundão a fora. Cabe-nos também repensar (como integrantes de um núcleo familiar) nossos próprios conceitos, esses que expandimos aos nossos filhos.Há urgência para isso?Há urgência.Não sei se há alguma estatística a respeito, no entanto acredito que muitos estupradores de amanhã, crescem em famílias que praticam o machismo. Por isso há urgência! O anjinho que se tornará um estuprador no futuro ou (1) tem problemas psiquiátricos ou (2) vive uma infância manchada por violência doméstica, desigualdade social e mais aquilo tudo que a gente sabe que desencadeará em traumas psicológicos, ou (3) simplesmente vive numa família que é uma escolinha de machinhos para futuros machões. Esse terceiro caso é do que trata esse post. Esse futuro comedor vive numa atmosfera familiar machista, independente da classe social. O rapazinho mimadinho da mamãe e da titia pode sim ser um estuprador em potencial. A escritora, que vos fala, por exemplo, já passou por momentos de tensão e precisou de muito jogo de cintura para evitar um estupro. O rapazote? Era um meninão de família.obs: É claro que não devemos generalizar. Existem mães que criam seus filhos passando bons valores e noções de respeito, daí vem a sociedade machista e o corrompe. E há, também, filhos conscientes que combatem o machismo doméstico.O revés da moeda

Mais uma da minha mãe: Meu irmão não queria ir à escola, foi até ela e disse: _Mãe, avisa pro meu pai que eu não vou!_Eu? Avisa você, garoto! Você é homem, tem que ter coragem!Enlouqueci com essa!_ Como assim? Se fosse mulher não precisaria ter coragem?Essa cobrança da sociedade em cima dos homens, para que sejam fortes e invencíveis é outro agravante. Meu pai, por exemplo, cobra coisas do meu irmão que jamais cobrou de mim (porém tem uma relação de amizade com ele que eu jamais poderei esperar. Ta aí o maldito tratamento diferenciado).
A exigência para que sejam super-homens é um ponto da cultura machista que vem, ironicamente, para vitimizar os homens. E, mais ironicamente ainda, é bastante praticado pelas mulheres. Considero-o tão grave como qualquer outro ponto dessa cultura, sendo, portanto, surpreendente o restrito número de homens engajados nesse combate, que os livraria de tamanha cobrança. Eles deveriam ser grandes interessados em extinguir esse costume injusto que é o machismo, porém o termo feminismo, acredito, afasta-os da luta, pois parece (mas não é, e sei disso) algo restrito a mulheres.

A necessidade de um movimento feminista


Nós mulheres precisamos sim de um movimento que nos defenda dos brutamontes que insistem em (pensar com a cabeça do pau, ops!) agir irracionalmente jogando a mulher no mato e comendo como se fosse um pedaço de carne. Precisamos sim de um movimento que nos defenda dos salários mais baixos; da cara de (cú, ops!) decepção de um homem quando chega numa loja de materiais de construção (ou coisa do tipo) e vê uma mulher no balcão. Precisamos sim de um movimento que nos defenda das piadinhas “inocentes” sobre nossa bunda, da pressão da mídia para que sejamos belas, perfeitas e peitudas, e de mais um monte de coisa que nos escraviza.  Porém...


O movimento ante-machismo


... esse post vem com a intenção de pregar contra a cultura machista, que é praticada tanto por homens como por mulheres, e vitimiza, além das mulheres, os homens também.O Brasil está em um momento de glória, o povo se mostra líder de si mesmo, essa é hora das mulheres se mostrarem conscientes e politizadas. Há pouco tempo atrás nós não podíamos votar! Quantas coisas já conquistamos! O pensamento, que a nossa raça tem de tão valioso, não pode continuar tão atrasado. Abaixo o pensamento machista! 

2 comentários:

  1. UM BELO TEXTO LITA SAHUN.
    PEÇO PERMISSÃO PARA POSTÁ-LO NO FACEBOOK.

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  2. O QUE MAIS GOSTEI DO TEXTO FOI O FATO DE VOCÊ SE DIRIGIR, CONVERSAR COM AS MULHERES.
    ACHO QUE HOJE É NECESSÁRIO QUE O MOVIMENTO FEMINISTA "PREGUE" PARA AS MULHERES, POIS ELAS SÃO, ATUALMENTE, OS HOMENS DA VEZ.

    TENHO ARRUMADO UM BOCADO DE DEBATE COM ESSA MINHA FRASE: OS HOMENS DA VEZ.
    MAS ELAS SÃO!

    INFELIZMENTE, NÃO HÁ QUEM "PREGUE" PARA OS HOMENS.
    OS HOMENS, SÓ E SOMENTE SÓ, ESTÃO SE ADAPTANDO ÀS MUDANÇAS QUE AS MULHERES FIZERAM DESDE O FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
    NÃO PENSAM E NEM PROPÕEM NADA.

    ALGUMAS REAÇÕES DOS HOMENS SE DEVEM A ESTA ADAPTAÇÃO, POIS TIVERAM QUE SE ADAPTAR AS MUDANÇAS DAS MULHERES.
    E SE HOJE AS MULHERES FAZEM ÀQUILO QUE SEMPRE CRITICARAM NO COMPORTAMENTO DOS HOMENS, NÃO FOI UMA BOA MUDANÇA, MAS A ISSO TAMBÉM ELES TIVERAM QUE SE ADAPTAR.

    OUTRA COISA QUE MERECE ATENÇÃO É O QUE EU CHAMO DE :
    1º) FEMINISMO ANDRÓFOBO;
    2º) FEMINISMO CAPITALISTA;
    3º) SEXISMO POR CONVENIÊNCIA.
    NÃO SEI HÁ QUANTO TEMPO ELES ESTÃO AÍ, MAS ESTÃO.
    UM ABRAÇO !!!!!!!!!

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