14 de maio de 2016



Posso sempre voltar ao deserto meu. Quando é tortura, quando não. Volto por bem, volto por mal. De tantas areias, de todos os grãos, incontáveis são as palavras que me formam. Tenho sede. A secura em dizer o indizível. De imaginar o inimaginável e desenhar com a sede as minhas loucas inundações. Tenho sol. Queimo por não dizer. Queimo por não calar. Cada palavra me esquenta, mas não posso evitar. Estou cansada. Ando mais sem rumo do que quando sei o caminho. Quando sei, paro. Não ando mais. Meu rumo é norte. Amanhã já não sei. Já não sinto. Sou pura insistência em não me ter. Sou resistência. E me queimo. Meu sol não me aguenta mais. Está quente quando quero. Está frio. É noite. Todos os meus frios me envolvem. Agasalho-me de vazios. De todos os ventos que encontro, sou tempestade. A noite é longa. O meu deserto é vasto. O meu eco é surdo. A noite tem tantas estrelas quanto o vazio. O brilho é meu. E me cega. Não me vi nunca mais. Amanheço e novamente me esqueço. Posso sempre voltar ao deserto meu. Volto por bem, ou por mal. Já sabia da ventania. É revolta de areia. Vento cruel. Em todos os meus rostos. Nenhum sabe do outro. Somos areia e nada poderá nos salvar. Posso sempre voltar e desvendar cada deserto, de tantas areias, de todas as noites, de tantas estrelas. Cruel vastidão. O tamanho é só solidão.


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