13 de novembro de 2009

Rio, novembro de 2009

Hola!


Quanto tempo, não é? É ou não é? Já nem sei mais, tanto tempo faz que parece que nunca nos falamos, que nem mesmo nos conhecemos. Engraçado isso, não?

Bem, respondendo sua última carta-e-mail... Desculpa a demora, a Bruninha esteve doente e eu não parei pra respirar entre exames e pediatras e remédios e horários nas madrugadas... estou bem, na medida do meu possível... que é bem diferente do seu, eu sei.

Bem! Estou bem. Mais terráquia impossível, mas bem. Não dá pra transcender, baby. Com crianças não há transcendência. Aquelas nossas idéias... ihhh ficou no passado. Ainda não dá pra largar a capital, o capital e muito menos o capeta. Sinto um cheiro de queimado. Nossa mãe, que medo que dá! Já olhei o fogão, nada.

O Ruanzito tem matado as baratas que aparecem pelo meu caminho. Quem diria... meu filho já é um ser pensante, um cidadão do mundo e até mata as minhas baratas. Às vezes parece que ele é meu pai... ai aquele papo de novo, a busca do elo perdido, do pai subtraído. Quanta psicologia barata! Quanta barata! Meu filho é meu filho e pronto. Lindo que só ele, mas ainda tem aquelas ideias de ser astronauta. Será que os homens não amadurecem nunca? Parece que estou ouvindo sua gargalhada escrachada, dizendo 'não sei, não sou mais homem há muito tempo, cresci baby hahahah' ou então 'porra caraio compra uma astronave pro menino e não torra as necessidades alheias hhahaha' Sinto sua falta e com isso sinto falta de mim também. Eu não sou mais eu, baby, eu sou mãe.

A Bruninha está recuperada, andou resfriada pois fomos à praia 3 dias seguidos no último fim de semana. Ela decidiu que quer ser surfista, baby! Que ironia! Não sei se o problema está no nome que você escolheu ou na genética que eu emprestei. Por falar nisso, juro que depois que eu tirei a cor vermelha dos meu cabelos nunca mais saí com nenhum cara, não por dinheiro. As coisas estão melhores, consegui comprar uns filmes bem antigos de um cinéfilo de São Paulo que faliu e fechou as portas. Foi uma viagem gostosa, choveu, mas chuva gostosa. Fui sozinha... ai como foi bom ficar sozinha!!! Bem, com isso dei um gás retrô na locadora e o público mudou também, claro, né... pessoas interessantes, baby. Você tinha de estar aqui... Tinha nada! Você está aí e isso não é motivo de se lamentar, nem de se mudar. Só de se delirar.

Delírio mesmo, te saber aí, tão longe de mim, tão cachoeira. Você que era tão NovaYork, tão undergraund, tão admirador de cheiradas e cafungadas... agora aí, tão assim verde, levantando a consciência em fumaça, plantando a vida, semeando amor livre e morangos.

Quanta falta você faz, baby! E o Cristóvão? E vocês? Ainda me lembro a impressão estranha que tive dele quando a primeira pergunta que ele me fez era se eu costumava..., bem aquela coisa que você sabe. Eu juro que rezei uma ave maria inteirinha depois de responder que sim, sim, sim, aí então ele ficou mais aliviado. Olhar maduro ele tem, né baby, visão além do alcance, já volta quando ainda nem acordamos quanto menos quando pensamos em ir. Você merece puxar essa corda pra você.

É loucura pedir uma visita, eu sei. Eu vou, baby, eu vou. A Bruninha não fala em outra coisa, quer voltar ai, menina natureza essa minha filha. Tão linda, baby, tão linda. A minha versão tão mais leve e sem culpas, tão menos prática, menos encanada e dona daquela sobrancelha pretinha tão expressiva e persuasiva. Já falei para ela parar com essa mania de hipnotizar as pessoas. Essa menina é meu amuleto. E vai ser uma grande mulher.

E eu? Eu te prometi, baby, que seria mulher! E eu sou... porque quando, aos treze anos, escorreu sangue pela primeira vez pernas abaixo eu decidi que seria mulher de verdade. Mulher completa do começo ao fim, de a a z. Que seria vulgar quando tivesse de ser, sensual, feminina. Que, se fosse para sofrer, sofreria como mulher, com graça e feminilidade. Dor com cheiro de flor. Decidi que seria amada, amante, mãe, louca, crente, medrosa, careta e que usaria brincos, saias e coragem. A partir daí eu abria minhas janelas e pernas em noite de lua cheia e me masturbava sem pressa, mas com o tesão de animal no cio das lobas e com um carinho por mim mesma que eu, naquela idade, nem sabia explicar. Ser mulher é meu mal, meu pesadelo dos piores, o maior presente de Deus e de mim pra mim, e que agora eu tenho e é meu, é ser eu, é mulher ser. Eu nasci pra ser mulher, baby, mas tive raiva de mim às vezes, por não ser homem. Coisa assim que não se explica. E agora eu sei... quando me fiz mãe e o mundo me adotou como tal, fechou-se um ciclo para que outro se iniciasse. Ah baby... eu sou tão feliz ... e estou agora tão plena com o meu mundo... Sempre na corda bamba das relações, sempre me expondo e chegando à beira do precipício. Sem mistério, sem roupa, revelando em palavras e ações fraquezas e deslizes. Enquanto você aí, no seu mistério de pavão. Impecável, escondendo a sete chaves o Kiko e a Chiquinha. É quando eu me calo frente àquela sua pergunta, e um tchau pra depois olá.

Um baby, Beijo!


Um beijo baby.



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