Latia de vez em quando. E comia. E dormia...
Enquanto eu buscava a felicidade a todo custo pelos corredores ilusórios das relações humanas, do labor culinário quase exitante, dos prazeres vãos... Enquanto eu escrevia, ou amargava as notícias do momento político, ele latia de vez em quando, levantava sempre a pata para urinar (mas só mijava mesmo e eu procurando as palavras) e abanava a cauda, inclusive para o vento. Sim, para o vento.
Enquanto eu me estudava para saber mais de mim mesma... Investigava cansativamente sobre como elevar as energias... Me planejava para um futuro nada mais que imaginado. Via um filme biográfico. Lia um romance psicografado, observando calada cada expressão de um machismo velado... Enquanto eu carregava o peso da minha mente... Ele ironicamente comia e dormia e roncava. E era. E estava... No maldito estado pleno de felicidade que eu invejava. Ele latia de vez em quando, eu olhava.
Enquanto eu lembrava de um passado morto, chorava um erro torto, dividia-me perdida na dualidade, tentava ver além do visível... Ele, petulantemente, nem pensava. Via, inteiramente, o gato que passava, ouvia, com o todo o corpo, um som lá de fora... e depois esquecia em simples desapego. Ele deixava...
Muito mais do que eu, ele meditava.
Enquanto eu me masturbava mentalmente, ele só gozava.
Jamais seria, aquele cão, atordoado ou manipulado por pensamentos egoicos pois tinha, o tal, a felicidade que eu sublinhava no livro de ouro do Dalai Lama.
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