Àquela que fui
Há cinco anos sou mãe.
Cinco anos se passaram desde que não pude mais ser o que era.
Cinco anos há, que entendi a dimensão que pode chegar o amor, esse mar.
Há cinco anos precisei afogar a ousadia de só fazer o que se quer na hora que bem desejar.
Há cinco anos que já não dá pé. Estou em alto mar.
Cinco anos. Sou o estado pleno de guardiã das águas. A lua é meu sol.
O mar às vezes é calmo, mas não cessa a maré. Por tal, me equilibro no desequilíbrio de ser mãe, de estar em pleno oceano de não me deixar afogar.
Tornei-me outra quando a voz das marés anunciou: 'Transbordarás!' Meu ventre verteu-se em aquário e antes que pudesse ser meu, fez-se rio e desaguou aqui nesse oceano onde me encontro. Uma onda salgada de sorrisos doces me fez alegre além das tristezas, esperançosa além das preocupações.
Te digo, porém, que outras ondas me quiseram levar de volta a ser quem eu era, aquela que descansa na orla, na tranquilidade de estar só. Mas, eu já não tinha escolha, nadei na direção do desconhecido de ser mãe. Marejei o máximo que pude para ter em meus braços um bebê. Fosse um peixe, ai Netuno, seria mais fácil, todavia era um bebê. Nós dois, em alto mar. Hoje sou do tamanho desse amar.
Cinco anos se passaram e minhas escolhas são diferentes, coisas que faziam sentido já não fazem tanto e, náufraga, já sei enfrentar tempestades. A pressão do mar é forte, mas é dessa grandeza que retiro a coragem contra todo o medo, que retiro a noção de eternidade contra qualquer frustração ou culpa. E quando vejo o horizonte, sei que é tudo meu, e sempre posso sonhar. Filhos são fontes de conhecimento, por isso nadei e nado nesse oceano de paz e tormenta, em que erro é só lição, nada mais.
Tenho saudades. Sinto falta de mim em terra firme. Tenho saudades da leveza de não temer. Entretanto o valor do que sou hoje, o peso do amor ao mar, cada gota de mim... Acho que sou maior... E já não posso voltar.
Sinto alguma saudade sim, entretanto meu bebê é um menino e já pode nadar. Ele me fala do seu amor, junta suas mãos às minhas e somos um só marejar. Meu bebê é minha ilha. Rimos das maritacas em cima das palmeiras, construímos castelos de areia e, quando o sol se põe, sentimos juntos.
Suas ações são ainda tão cristalinas, sua risada tão pura, suas águas ingênuas e me lavo.
Quando brincamos de pirata, enviamos as cartas dentro de garrafas e elas transcorrem o tempo, assim como essa que segue na direção do que deixei de ser.
Há cinco anos que cresci. É que hoje sei nadar.
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