18 de setembro de 2014

Maré- Rebate em mim sua maré e transborda-me de mangue que já há história possível depois do nosso fim. Cada galho de nós já se estende e os capítulos da nossa tragédia trazem filhos maiores que o nosso tamanho. Um mosaico infindo de rumos e seus homens, suas mulheres, nossos filhos...

Mangue - A luz da sua maré não mais se apaga e essa lua única transforma minha missão em uma grandeza jamais vista, como as desvairadas histórias de amor que aqui se encenarão, como cada grito de dor ou insatisfação, como a força da mãe com a criança pela mão, de uma política injusta e o soco no chão, como o choro nas ondas dos carros que vão. Armas de fogo não me abaterão. O menino pisa na miséria, mas quando olha pra cima, vê que um céu grandioso cobre seu chão.

Maré - Recolho-me sempre que prevejo a dor, mas cresço em saudade quando sei que a felicidade é maior, e a simplicidade do povo enaltece cada grito, engrandece cada dor. Alagados somos. Sei que os sorrisos ainda me levantam a maré, e fazem rebater, na luz grande dessa lua, toda a paz que falta em cada mancha de sangue do meu mangue. Tenho na música do povo a força que me levanta, ouço em cada coração essa força que me alimenta. No teatro da nossa paisagem, a arte é possível em cada cotidiano, e a favela cresce mais do que o tamanho.

Mangue - Tenho em mim o lixo e o aterro de toda uma história, de todo o suor. Enterro aqui os entes heróis que deixaram prontas as vielas onde se arrastavam vergalhões. A caminhada pela vida é coletiva, minha mão só leva a sua pelo instinto que nos une. O grito do povo é de união, na marcha pela justiça. Todos juntos, em um só complexo que é muitos, descobrirão na dose do amor o significado da compaixão, e próximos se aquecerão, limpando cada humilhação, vislumbrando na chegada do sol um futuro que é pura firmeza, de um caminho que é longo e enlameado, para um único final.

Maré - Se minha casa tem pernas, eu construo nosso chão.

Mangue - Se minha casa tem pernas, eu construo nosso chão.

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