4 de junho de 2014

MANIFESTO DE UMA ARTE SEM RAZÃO

Sinto que uma força absoluta e, desde sempre, inexplicável, que havia em mim e me fazia por assim existir... morreu.



Pronuncio-me, porquanto ainda respiro mesmo em formato de putrefação, no intuito de resgatar-me em entendimento e iluminar-me da dúvida, ela que me fazia, em parte, perdurar.


Comunico a todos então o meu quase, já que ainda encontro voz em mim, falecimento para que me ajudem os que ainda possuem a lucidez da ideologia.


Cá estou... em pura redenção... trazendo em mim, a simples necessidade de expressão! E a questão que não me cala é se devo pelejar e persistir sem desvio, por ingênua paz de espírito ou por perturbação.


Por que motivo hei de existir, lacrada em fôrma artística quadrada, estando assim, em nome de escrito vasculhador, caçador de razão?


Repito, por arte que sou e pelo respeito que me ocultas, a indagação; jogando-a ao vento nessa permissão que vocifera, punho em tocha acesa, malogrando-me pelo espectro agonizante da ideologia: A que vim?


Protesto, papel branco que sou, contra toda e qualquer futilidade que me faz viva por ela e pra ela. Não, irmão, não me conformo com o conformismo de não fazer sofrer o meu ouvinte a mesma dor de quem sofre por não ter voz. Eu, sagrada e sacramentada pela história, deveria ser sua voz, no entanto amordaçam-me quando se perde o meu significado ou ocultam-me a minha fidedigna razão de existir.


Pergunto como se nunca o tivesse feito: Qual o meu signo de hoje, uma data que marca, insistentemente, meu fim?


Não me aponte essa nota, não me escravize pelo cifrão, irmão, peço-te com a sabedoria de ente ancestral, pois já nascia e morria antes que pudesse o homem manejar essa televisão que não interroga enquanto energiza e emana a bagatela.


Que faço, se o teatro, um de meus braços e abraços mais expressivos, enquanto polvo que me tornei no mar do universo, já não se encontra mais por entre patrocínios e editais, por entre umbigos siliconados e fotografias?


Que faço, se a música, minha mão mais acolhedora e embriagante, enquanto corpo que dança e aplaude que sou, já não chora quando nasce, morrendo cedo pois sem vida já está? 


Quantos óculos precisam, homens, para que lhe caiam as vendas?


Denuncio que me estão falsificando. Sim, falsificam-me numa luxúria de conceber-me por prazeres vãos, sem questionamento ou sem razão, na espera gananciosa do meu mais cruel desamor: a vaidade.


Que arte sou eu? Ora, mas que idéia oca me tornei, pouco explanada de um rio sem azul, de um ar sem pureza, de um comércio forçado, de um vendaval que não prevê a escassez futura. 


Nesse feitio, sigo a interrogar o homem, se não é hora de mudar o centro de seu universo, já tendo sido Deus, naquele formato tão inacessível, já tendo sido o próprio homem, naquele formato de razão egoísta, para essa morada redonda que batalha por ser compreendida como continuidade de seu próprio corpo. E então, toda filosofia, minha irmã que apelido pergunta, junto a mim, gritaria por verdade. Já não é hora?

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