29 de janeiro de 2010

uma bulimia inteira e nervosa

Nessa praia desestruturada, como se pedaços de mim fossem caindo, baleados, atirados ao chão sem previsão de data, de reforma. Pedaços de estrelas jogados ao mar sem me esperar. Espera! Não vai ainda, preciso te contar um segredo antes que o sol nasça... é que meu liquidificador já não suporta mais esse trabalho diário que é árduo. Ele pia e seu pranto causa esse terremoto dentro de mim e o número de mortos torna-se cada vez menos calculável, mais indecifrável, tão impenetrável...


Ah...pudesse eu parar de melodramar em forma de pensamento, se eu pudesse pensar de parar para não pensar o pensamento.

Era só... Eu queria te dizer, que eu poderia ser passarinho. “Pois é, virei passarinho, e como meu currículo é bom eu fui promovida a não pensar e agora vivo assim voando e agora meus equívocos são outros e agora as tempestades têm outro cheiro e agora eu não sinto mais essas coisas que ainda sinto. Eu sou feliz assim passarinho”

Espera! Não vai embora ainda, é eu que tinha uma considerável porção de coisas pra vomitar que não me lembro e ela pesa nas mãos e escorrem pelos dedos e braços e eu não consigo controlar essa densidade. Não me deixa aqui assim ao pé do altar com essas flores e uma esperança jaz que viaja pro caribe.

Sonho. Pai, fecha a porta do carro pra ninguém ouvir, hoje eu sei que era uma chantagem covarde. Se fosse uma chantagem honesta, você tinha ido... Você não foi e eu nem precisei dizer nada, pai, pai, pai, api, pia, aipim. Sempre te encontro por aí pelos becos e sua forma varia conforme os dias da semana, e hoje, que fui baleada por notícias de tiros não poderia deixar de lembrar-me de você. Hoje chegou frente-fria e eu sempre me lembro de você quando neva. Acordo.

Espera, não fica aí assim de olhos fechados, eu só queria te dizer que também vou embora... é, não vou ficar aqui não, não preciso mais desse planeta. Preparação. Aprendendo a perdoar meus próprios erros. Vou-me embora assim que comprar a chantagem. Eu vou. Você está pensando que eu vou ficar aqui assim sem puxar a cordinha?

Ué estranho... de repente... estar aqui é tão bom... acho que vou ficar mais um pouco nesse sonho então... Ou você quer me acordar? Se você quiser me levar, eu vou... já entendo das coisas... se a idéia certa for tão importante quanto a prática das coisas, já estou preparada. Eu já ia fazer, juro, só não comecei ainda... por pura covardia. Acorda, não fica aí tão viajante, não me deixa professor... eu só queria ensinar também...

Eu amo você, menina, eu amo você, menina. Não vá embora, vou morrer de saudade, você é algo assim, é tudo pra mim essa maldita música em forma de declaração, como se as pessoas fossem insubstituíveis. As pessoas são substituíveis, menina! Você é tão bobinha...

Espera! Não vai ainda, o Caio precisa falar com você, antes que esse ônibus parta e a rapariga do Veríssimo morra de saudade do dia vinte e sete que nem vai acontecer, era quando o casamento se faria todo branco na capela da praça e flores, se você não tivesse entrado no navio das sombras. Volta! Ouça a minha voz! Leva-me pro Tahiti ou pra Santos pela estrada a fora, eu vou tão sozinha.

Não vai ainda não vai ainda e a sua partida me faz tão triste que me faz pequeruxa que me traz essa falta de esperança e essa falta de memória em falta, que me lembra como tudo é assim tão estranho... e tudo falta.

Achei tão bonito quando alguém me disse que amor não tem medida, não tem métrica, não tem fim, não tem começo, não tem tempo, não tem tamanho. Que é um só, que é de todo mundo. Achei tão bonito, eu não sabia disso, eu só queria pegar o amor na mão e no corpo todo e me banhar dele, mas não dá por que é sublime.

Eu achava que era carnal, eu queria comer. Na guerra não dá pra amar, por isso não te demores aí. E o amor invade. Até nos campos de concentra-lemanh-ação ele podia entrar.

Estranho... Ando me encontrado por aí. Cabelos meio cinzas do tempo, olhos sobreviventes e envelhecidos, magreza de absoluta eternidade. Ando me encontrando por aí pelo tempo de ontem, de depois de amanhã numa dialética completa e firme de um olá atrasado e encimado, num pierrot apaixonado que grita de dor e reflete no brilho do olhar essa imagem... por aí, pelas ladeiras e mesas de bar, copo sempre gelado e dum amarelo enegrecido, quase da preta, desce mais uma que hoje eu to pra negócio.

Um comentário:

  1. se não pensar nisso ocê deixa de se encontrar
    ocê desaparesse si esvai
    é só se concentrar em não s'encontrar

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