25 de setembro de 2009

Não ser nada é tornar-se tudo somente para si.


A dor de não ser grande em nada, te faz pequeno. Sendo pequeno, torna-te um grande nada. Ser um grande nada é não ser grande em nada. Não ser grande em nada é ser pequeno em tudo. Ser pequeno em tudo é não ter voz.

Não ter voz é ser estrela apagada, é baixar a cabeça. Não ter voz é se conformar, é quando se é o pó do grão ou o grão do pó, sei lá, tanto faz quando se é nada. É deixar a panela queimar de propósito por preguiça de desligar o fogo do mundo, a tua morada.

Quando se é nada, nada se quer, ou se aspira. Nada. Ou apenas um desconto de 10% numa bolsa da Victor Hugo.


Essa coisa de não ser grande em nada, te põe no lugar da observação, da impotência, da espera na janela enquanto a banda passa, até porque não ser nada não te torna cego e não ser grande não te faz frio. Ótimo: quando não se é nada, pode-se ao menos ser um observador, grande ou pequeno. É o que se espera, a observação crítica e uma poesiazinha, para se dormir tranquilo pelo menos por uma noite.


A hora é essa, acender um cigarro e observar, fez-se o nada. Passa-se então a tudo olhar. Vê-se crianças choramingando a fome, vê-se o velho, vê-se o desespero mudando suas cores na vida, vê-se a paz, vê-se o inferno, vê-se a pressa... Sente-se a navalhada e nada se faz... pela conservação, claro, da cadeira de 'o grande nada', pela inércia, pela apatia. Nada, não há tatuís nas praias. Nada. Conformismo e mutilação do teu clitóris em nome de um Deus.


Quem sabe mais poesia? Uma por dia? _ Ninguém te lê, grande nada. Arte fraca, sem bandeiras ou facadas. O fedor dos corações não se limpa assim fácil com poesia e sabão. Quem sabe a presidência do planeta? _ Como? Em qualquer cadeira que sentares, nada, serás sempre um impotente. O im-potente é um pedaço do todo, sem poder nem potência, um ponto na platéia. Tuas lágrimas ou vaias não existem, são só pra ti. Nada se faz em prol do todo. Nada


O grande nada se confunde, prefere não pensar como pode a bomba atômica brotar da mesma terra que brota a flor. Quanto absurdo! Quanta dor! O nada sente fome e a sua fruta está envenenada com resíduos de um futuro câncer. Mas isso é normal. Quem é pequeno não questiona. Sente fome e come; não pensa. Quem é pequeno envenena, agrotoxíca, apunhala e trai.


A dor de não ser grande em nada te faz um observador, pequeno, mas observador e, de súbito, vê-se um pêlo rebelde na sobrancelha esquerda ou, pior, uma sujeirinha no umbigo.


Quando se é pequeno, ninguém te lê, ninguém te aplaude. Quando se é pequeno, tudo se torna grande e os odores te entopem a garganta, misturam-se o cheiro do rico e o cheiro do pobre, o cheiro da dor e do torpor. Tudo é grande, meu Deus. Tudo é grande, meu Pai.

O nada nada é. Mãe, nem grande, nem pequena. Artista, nem pintora, nem atriz, nem poeta. O nada está vazio, tua tinta não tem tela, tua voz é engasgada, teu caráter é duvidoso e tua árvore não dá frutos.

Quando se é um grande nada, torna-te o grande todo, a massa, a grande maioria, o real sentido da vida entre a superfície da terra e o céu. Não ser nada é tornar-se tudo somente para si.

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